segunda-feira, 18 de abril de 2016

Cartilha de orientações sobre Febre Reumática

Sociedade Brasileira de Reumatologia
Dr. Kléper Jean Medeiros Leopoldino

Orientações sobre Febre Reumática

1. O que é a Febre Reumática?
     A Febre Reumática é uma doença inflamatória que pode comprometer as articulações, o coração, o cérebro e a pele de crianças de 5 a 15 anos.

2. O que causa a Febre Reumática?
     A Febre Reumática é uma reação a uma infecção de garganta por uma bactéria conhecida como estreptococo. Essa infecção de garganta é caracterizada clinicamente por febre, dor de garganta, caroços no pescoço (gânglios aumentados) e vermelhidão intensa, pontos vermelhos ou placas de pus na garganta. A criança, geralmente maior de 03 anos de idade, poderá apresentar a infecção de garganta como qualquer outra criança e, geralmente, uma a duas semanas depois começa a apresentar as queixas da Febre Reumática.

3. Qualquer criança que tem infecção de garganta pode apresentar Febre Reumática?
     Não. Somente aquelas com predisposição para apresentar a doença. Inúmeras crianças apresentam frequentes infecções de garganta, especialmente nos primeiros anos de vida, porém isto não é suficiente para predispô-las a apresentar a Febre Reumática. A predisposição necessária para apresentar a doença origina-se de herança familiar e já nasce com a criança.

4. Quais são as manifestações da Febre Reumática?
     A manifestação mais frequente é a artrite que se caracteriza por dor intensa, que dificulta o caminhar, e por inchaço e calor discretos nas articulações. As articulações mais acometidas são os joelhos e tornozelos. É comum a dor e as outras alterações passarem de uma articulação para outra, permanecendo de dois a três dias em cada uma. A simples presença de dor em uma ou mais articulações ou nas pernas, e sem as outras alterações (inchaço e calor), não é um sinal da doença.
A segunda manifestação da Febre Reumática é o comprometimento do coração (cardite) caracterizado por inflamação nas válvulas do coração podendo deixar sequelas e limitar a vida da criança na idade adulta.
A terceira manifestação é a coréia, que se caracteriza por fraqueza e movimentos anormais nos braços e nas pernas e alterações no comportamento do paciente.

5. A criança com Febre Reumática sempre tem febre?
     Não. Embora o nome seja sugestivo, nem todas as crianças apresentam febre como manifestação da doença. Ela aparece com maior frequência durante a infecção de garganta e não necessariamente quando ela começa a apresentar as manifestações da Febre Reumática.

6. Como se faz o diagnóstico da Febre Reumática?
     Com base nas queixas que a criança vem apresentando nos últimos dias, ou seja, da presença de dor e inchaço nas articulações, acompanhado, na maioria das vezes, de febre, fraqueza generalizada e falta de apetite associada às alterações nos exames de sangue que podem comprovar a presença de inflamação: velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa (PCR) e alfaglicoproteína. A presença de infecção de garganta antes do início das alterações articulares ou cardíacas é muito importante para o raciocínio do médico que poderá comprová-la por meio da dosagem da antiestreptolisina O (ASLO).

7. A ASLO dá o diagnóstico de Febre Reumática?
     Não. Ela é um anticorpo que o nosso organismo produz para combater o estreptococo durante ou logo após uma infecção de garganta. Portanto, ela serve apenas para dizer se a criança teve infecção por esta bactéria. Na ausência das manifestações típicas da Febre Reumática, a ASLO não tem nenhum valor para o diagnóstico desta doença. Oitenta por cento das crianças com infecção de garganta pelo estreptococo apresentam elevação da ASLO, porém somente 3% delas poderão apresentar Febre Reumática. É importante ressaltar que a presença de dor nas pernas e ASLO elevada não significam febre reumática.

8. Como se trata a Febre Reumática?
     O primeiro passo logo que se suspeita desta doença é tratar a infecção de garganta mesmo que ela tenha acontecido duas ou três semanas antes e isto deve ser feito com a penicilina benzatina (Benzetacil®l), antiinflamatórios, como ibuprofeno e AAS. Para o tratamento da coréia, o haloperidol ou o ácido valpróico até os movimentos cessarem. Embora estas etapas sejam muito importantes no tratamento da criança com Febre Reumática, a medida que poderá fazer a diferença na evolução do paciente é o que chamamos de profilaxia secundária, ou seja, a administração da penicilina benzatina nas doses acima referidas a cada três semanas (21 dias) para evitar que a criança tenha novos surtos da doença.

9. Por quanto tempo a criança terá que tomar a penicilina?
     Se durante o surto a criança não apresentou comprometimento do coração, deverá ser até os 21 anos ou por no mínimo cinco anos caso seja um adolescente; entretanto, se a criança apresentou cardite, poderá ter que fazê-lo até os 25 anos ou por toda a vida, dependendo da gravidade do quadro.
O uso correto da penicilina benzatina (benzetacil) a cada 21 dias é de fundamental importância para a prevenção da cardite reumática que pode causar sequelas no coração por toda a vida.

10. Quais as complicações que a criança pode apresentar se tomar a penicilina por muito tempo?
     O maior inconveniente desta medicação é a dor no local da aplicação. Não há qualquer efeito indesejável para o crescimento, para o esmalte dos dentes ou mesmo para os ossos da criança com o uso da penicilina por vários anos. Também não se tem observado resistência da bactéria (estreptococo) com o uso prolongado desta medicação.

11. E quanto à alergia à peniclina?
     Felizmente a alergia à penicilina é muito rara, em torno de 1,5% a 3% em todas as idades. Na criança com menos de 12 anos, as reações graves, como o choque anafilático, são mais raras ainda, estando na faixa de 0,7%. Portanto a reação alérgica causada pela penicilina benzatina não é comum.

12. A retirada das amígdalas pode melhorar a Febre Reumática ou impedir que criança tenha outros surtos?
     Não. Isto porque a criança poderá continuar tendo infecções pela mesma bactéria nas paredes da garganta mesmo na ausência das amígdalas.

Cartilha de orientações sobre Espondilite Anquilosante

Sociedade Brasileira de Reumatologia
Dr. Kléper Jean Medeiros Leopoldino

Orientações sobre Espondilite Anquilosante

1. O que é a espondilite anquilosante?
     A espondilite anquilosante é um tipo de inflamação que afeta os tecidos conjuntivos, caracterizando-se pela inflamação das articulações da coluna e das grandes articulações, como quadris, ombros e outras regiões. Embora não exista cura para a doença, o tratamento precoce e adequado consegue tratar os sintomas - inflamação e dor –, estacionar a progressão da doença, manter a mobilidade das articulações acometidas e manter uma postura ereta.

2. O que causa a espondilite anquilosante?
     A causa é desconhecida. Os especialistas sabem que a doença é genética e é mais frequente em pessoas que herdam um determinado marcador genético, denominado HLA-B27. Cerca de 90% dos pacientes brancos com espondilite anquilosante são HLA-B27 positivos. A teoria mais aceita é a de que a doença possa ser desencadeada por uma infecção intestinal naquelas pessoas geneticamente predispostas a desenvolvê-las, ou seja, portadoras do HLA-B27. A espondilite anquilosante não é transmitida por contágio ou por transfusão sanguínea.

3. Qual a prevalência da espondilite anquilosante?
     A espondilite anquilosante tende a ocorrer em famílias, afeta três vezes mais os homens do que as mulheres e surge normalmente entre os 20 e 40 anos. Cerca de 20% dos indivíduos com HLA-B27 terão espondilite anquilosante, embora a maioria nunca será diagnosticada como tendo a doença, pois ela se apresentará de forma branda. Como o HLA-B27 está presente em 7% a 10% da população.

4. Quais são os sintomas da espondilite anquilosante?
     Dores na coluna que surgem de modo lento ou insidioso durante algumas semanas, associadas à rigidez matinal da coluna, que diminui de intensidade durante o dia. A dor persiste por mais de três meses, melhora com exercício e piora com repouso. No início, a espondilite anquilosante costuma causar dor nas nádegas, possivelmente se espalhando pela parte de trás das coxas e pela parte inferior da coluna. Um lado é geralmente mais doloroso do que o outro. Essa dor tem origem nas articulações sacroilíacas (entre o sacro e a pélvis). Alguns pacientes sentem-se globalmente doentes –sentem-se cansados, perdem apetite e peso e podem ter anemia. A inflamação das articulações entre as costelas e a coluna vertebral pode causar dor no peito, que piora com a respiração profunda, sentida ao redor das costelas, podendo ocorrer diminuição da expansibilidade do tórax durante a respiração profunda. Os indivíduos que apresentam limitação significativa da expansibilidade do tórax não devem de forma alguma fumar, pois seus pulmões, que já não expandem normalmente, estariam ainda mais susceptíveis a infecções.

5. Quais são os órgãos e tecidos afetados pela doença?
     Articulações da coluna vertebral: inflamação das articulações da coluna que causa dores e rigidez matinal. A doença começa nas juntas entre o sacro e a pélvis, denominadas juntas sacroilíacas. Outras articulações: inflamação das articulações dos quadris, ombros, joelhos e tornozelos são as partes afetadas com maior frequência. Algumas vezes, ocorrem locais sensíveis ou dolorosos em ossos que não fazem parte da coluna, como o osso do calcanhar, tornando-se desconfortável ficar em pé em chão duro, e o osso ísquio da bacia, tornando as cadeiras duras muito desagradáveis.
Os olhos podem ser acometidos apresentando “olho vermelho” uveíte ou irite. Os pacientes apresentam olhos avermelhados e doloridos, o que deve ser reportado ao médico o mais rapidamente possível, pois pode ocorrer um dano permanente.
A pele pode estar afetada, com a presença de psoríase, uma condição inflamatória comum da pele, caracterizada por episódios frequentes de vermelhidão, coceira e presença de escamas prateadas, secas e espessas.
O intestino pode estar associado a espondilite anquilosante em alguns pacientes e o Intestino: a colite, ou inflamação do intestino, pode estar associada à espondilite anquilosante em alguns pacientes.

6. Como diagnosticar a espondilite anquilosante?
     O diagnóstico da doença é baseado no conjunto de sintomas (dor nas nádegas e dor nas costas) e nos exames de imagem (raios-x, tomografia computadorizada ou ressonância magnética) da bacia, da coluna e das juntas afetadas. O médico faz um histórico e examina as costas (procurando por espasmos musculares, com atenção para a postura e mobilidade) e examinará as outras partes do corpo, procurando pelas evidências da espondilite anquilosante. o diagnóstico da espondilite anquilosante é confirmado pelos exames de imagem acima citados. As alterações características estão nas juntas sacroilíacas, mas podem levar alguns anos para desenvolver-se, podendo não ser notadas na primeira consulta. O médico, provavelmente, o avaliará com relação à anemia e aos testes da velocidade de sedimentação das hemácias (VHS) e proteína C Reativa (PCR), que informam quão ativa a doença está.

7. Como a doença pode progredir?
     A espondilite anquilosante toma diferentes rumos em pessoas diferentes, sendo que dois casos nunca são exatamente iguais. Com o passar do tempo, após a fase ativa em que as juntas estão inflamadas, a doença torna-se bem menos ativa ou mesmo totalmente inativa. Os sintomas podem surgir e desaparecer durante longos períodos. Os ossos das vértebras da coluna crescem, formando pontes entre as vértebras, às vezes envolvendo completamente as juntas, impedindo assim que ela se mova, causando a rigidez denominada anquilose. A coluna lombar geralmente se torna rígida, bem como a região posterior superior do pescoço. É por esta razão que é muito importante que se mantenha uma boa postura. Algumas pessoas podem ter apenas uma sé- rie de leves dores e desconfortos, durante vários meses. Isso parece ser mais comum nas mulheres com espondilite aquilosante. Nesse estágio, a doença pode tanto desaparecer, como pode prosseguir causando rigidez na coluna dorsal ou mesmo no pescoço.

08. Como é o tratamento da espondilite anquilosante?
     Não há cura para a espondilite anquilosante e, embora a doença tenda a ser menos ativa conforme a idade avança, o paciente deve estar consciente de que o tratamento deve durar para sempre. O tratamento objetiva o alívio dos sintomas e a melhora da mobilidade da coluna onde estiver diminuída, permitindo ao paciente ter uma vida social e profissional normal. O tratamento engloba uso de medicamentos, fisioterapia, correção postural e exercícios, que devem ser adaptados a cada paciente. No tratamento medicamentoso convencional utilizam-se analgésicos para aliviar a dor. Existem várias substâncias capazes de reduzir ou eliminar a dor, que permitem ao paciente uma boa noite de sono e seguir um programa de exercícios. Os remédios podem ser sintomáticos como os analgésicos e os relaxantes musculares, ou então modificadores da evolução da doença, como a sulfasalazina e o metotrexato. Como existem estudos indicando que o uso contínuo de anti-inflamatórios não-hormonais pode reduzir a progressão radiológica da espondilite anquilosante, estes medicamentos também são considerados modificadores de doença.

09. E o que são as recentes terapias biológicas?
     Terapias biológicas representam um significativo avanço no tratamento dos portadores de 16 espondilite anquilosante, que não responderam ao tratamento convencional. A terapia biológica consiste em injeções subcutâneas ou intravenosas de medicações que combatem a dor, inflamação e as alterações da imunidade nas doen- ças acima mencionadas. Consiste de medicações à base de anticorpos monoclonais, proteínas de fusão celular, anti-interleucinas e bloqueadores da coestimulação do linfócito T, que se comportam como verdadeiros mísseis teleguiados que inativam, com precisão e segurança, determinados alvos constituídos por células, citocinas e mediadores imunes presentes de forma anormal na circula- ção dos portadores de espondilite anquilosante.

10. Qual é a importância dos exercícios na espondilite?
     O propósito dos exercícios é conscientizá-lo de sua postura, especialmente com relação às suas costas, e encorajar o movimento livre de algumas juntas, particularmente ombros e quadris. É importante fortalecer os músculos, pois o movimento reduzido, mesmo por um curto período de tempo, enfraquece-os, podendo levar muito tempo para reconstruí-los. Como parte do tratamento da espondilite anquilosante, é importante que ele cuide de sua saúde e postura. Isso inclui evitar o excesso de peso e de cansaço por longos períodos de trabalho ou por excesso de compromissos. O lema para o tratamento, o qual cada paciente deveria aprender e obedecer, é: É FUNÇÃO DO MÉDICO ALIVIAR A DOR E É FUNÇÃO DO PACIENTE PRATICAR EXERCÍ- CIOS E MANTER BOA POSTURA.

11. O paciente pode praticar qualquer tipo de esporte?
    Muitos pacientes perguntam quais atividades esportivas são apropriadas para eles. A atividade ideal é a natação, de preferência em piscina aquecida, pois utiliza todos os músculos e juntas sem friccioná-los. Esportes de contato não são indicados, pois as juntas podem ser danificadas. Andar de bicicleta também é uma forma de exercício bastante benéfica, pois mantém as juntas ativas, dando maior força às pernas. Além disso, é um bom exercício de respiração e auxilia na expansibilidade do tórax, por vezes diminuída pela espondilite anquilosante.